4

Um pouco de poesia.

Quanto tempo levamos para crescer?
E quando somos ralmente grandes?
Quantos caminhos iremos percorrer até o dia acabar?
Somos quem podemos ser, sonhos que podemos ter...
Com quantos caminhos se faz uma vida,
E com quantas vidas se faz um caminho?
Por quantas pedras e por quantos rios passaremos,
o que levaremos?
Dar-se enquanto é tempo,
doar-se enquanto há vida...
As coisas passam num piscar de olhos e quando vemos o caminho já passou.
Nada acabou, tudo apenas começou.
2

Aquilo que os olhos dizem...

Ela simplesmente não sabia o que fazer...Como podia ler olhares?
Acordara de manhã e, ainda com ramela nos olhos, encontrou sua mãe no banheiro a se maquiar, disse "Bom dia...", e sua mãe a olhou com os olhos já delineados e disse "Bom dia..."com os lábios, mas dizendo: "Talvez fosse um bom dia se o meu chefe não aparecesse na repartição e seu pai me levasse pra jantar..." com os olhos.
"Hora, convide papai para jantar e não dê tanta atenção assim ao seu chefe!"exclamou a menina. A mãe a olhou espantada perguntando meio à garota meio à si mesma se teria dito seu pensamento em voz alta. A menina foi-se pelo corredor e a deixou lá, com seu questionamento.
Trocou-se, pegou todo seu material e olhou-se no espelho do aparador. Estava diferente, dormira tão bem sonhando com "Ele".Como seria dormir tendo a certeza do seu abraço, do seu beijo, do amor d'Ele? Nos sonhos ela já sabia como era.
Tomou café silenciosamente ao lado do pai, ela divagando sobre sua paixão juvenil e ele protegido pelo jornal, uma grande fuga quando não se tem assunto.Logo veio a mãe, correndo e dizendo do atraso, nem sequer olhando a mesa ou tudo ao seu redor. "Vamos menina ou você perde a primeira aula e eu ganho uma bela chamada!"
Seguindo a mãe disse "Até" ao pai e foi, toda esvoaçante até o carro. Não é que estava excitada pela escola, a escola em si não a animava, mas "quem" estava na escola trazia toda essa euforia.
No caminho a mãe foi silenciosa e a menina mais ainda, uma nem sequer olhara para a outra e no fim do percurso ela percebeu que a mãe estava com ocupações demais para ser sua caixa de confidências. Disseram apenas "Thau" mas ela viu, no fundo dos olhos da mãe uma frase.
"Queria tanto que as coisas fossem diferentes." Essa frase estava batucando em sua cabeça como "I just called to say I love you", não era uma música, mas parecia. Como ela leu ou ouviu isso?Como podia ver o que olhares diziam? E porque sua mãe estava pensando isso? Simplesmente porque sua vida não era como sonhara...E isso a mãe teria de resolver sozinha.
Enquanto ela pensava na vida chegou "aquela pessoinha". Olhou-a dentro dos olhos dizendo "Ele é meu!" sem nem ao menos mexer os lábios. Agora sim, ela estaria ficando louca? Sabia que as pessoas falavam com olhos, mas nunca pensara nisso como algo real e incontestável. Sem pensar duas vezes, disse com sua voz terna e sábia: "Ninguém pertence à qualquer ser deste mundo.Tenha um bom dia"
A pessoinha empinou o nariz e saiu do alcance dos seus olhos.Definitivamente ela não havia entendido nada...E isso não deixava de ser engraçado!
Logo "A amiga" chegou. Se abraçaram apenas e naquele instante de infinito nada precisou ser dito e tudo foi entendido. Ela disse a amiga: " Estou entendendo o que os olhos dizem..." e a outra simplesmente disse "Eu tinha certeza que um dia você entenderia". A abraçou novamente e seguiu pelo corredor, o sinal havia tocado. A menina foi para sua sala sem entender muita coisa.
Enquanto ela olhava para o nada que a lousa vazia representava "Ele" chegou. Suas pernas bambearam e suas maçãs do rosto ficaram ainda mais rosas. Um sorriso de canto de boca pareceu quando ele lhe digiriu o olhar, que dizia apenas "Bom dia!". Ela apenas mexeu os lábios mas som nenhum saiu...Ele sentou-se ao seu lado. Ela ficou mais rubra ainda. E a aula começou e seguiu seu curso, com ela vendo o tédio das mentes de alguns professores, a sabedoria dos pensamentos de outros e a realização nos ensinamentos de alguns.
Logo depois do almoço, antes do professor chegar, Ele sentou-se e disse: "Você vai de ônibus hoje?" e ela respondeu "Sim" com uma voizinha tão pequena quanto a palavra. Olhava em seus olhos e nada lia...Ele disse: "Que bom! Assim quem sabe você pode me explicar literatura? Eu não entendo Fernando Pessoa...Eu guardo seu lugar no ônibus." Ela novamente disse apenas que sim.
A aula continuou e ela não conseguia entender nada que o professor dizia, não entendia os números e parecia que se esquecera do que as palavras diziam...
O tempo passou arrastado mas passou e logo chegou a hora de ir embora. Correu até o ponto, entrou no ônibus e logo ouviu um "Aqui! Eu guardei seu lugar". Olhou a frente e viu aquela mão que tanto observara durante suas aulas e logo depois viu os olhos que tanto lhe impressionavam com sua cor de mel, mas sem ler o que poderiam dizer.
O caminho foi mais curto do que ela queria, enquanto ela lhe explicava " Meu olhar é nítido como um girassol" ou então "Pensar é negar o sentir", ou então "Nada me prende, a nada me ligo, a nada pertenço" e por fim "Segue o teu destino,/Rega as tuas plantas,/Ama as tuas rosas./O resto é sombra de árvores alheias."
Pertíssimo do seu ponto, ela disse, não querendo dizer, "Eu desço aqui."
E ele simplesmente respondeu "Eu sei" E dando-lhe um beijo no rosto disse "Obrigado".
Ela ia levantando quando ele segurou sua mão, nada disse, mas ela entendeu o que o mel dos seus olhos diziam...
" Você não faz ideia de como eu te admiro! E mesmo não sabendo o que realmente é, sei que sinto algo maior que isso."
Ela ainda pensava no que havia visto-ouvido com olhos deitada na cama. Na verdade, pensou o tempo todo. Não se lembrava do que havia jantado, nem o que havia visto na televisão, apenas lembrava que era sensível o suficiente para ler o que os olhos diziam e que isso fazia algo ser melhor, na verdade, muito melhor em sua vida. Ler as pessoas podia fazê-la feliz...E Ele a admirava...E isso não era o todo, era apenas o início.
6

Aos Trinta.


Daqui a doze anos eu terei trinta anos...O tempo é realmente algo destinto.Desde pequena penso em como inventaram o tempo e porque ele rege tanto nossas vidas. Lembro-me de perguntar às pessoas grandes como o tempo havia surgido e em qual tempo o seu criador apareceu no Universo. Até hoje penso nisso porque acredito ser ele o bem mais precioso que pode existir.É a partir dele e apenas nele que as coisas podem ser planejadas e construídas.
Desde que me entendo por gente planejo minha vida. As idades, os períodos,os estudos, os trabalhos,os filhos, o marido...Acho que cada pessoa se preocupa de alguma forma com as coisas que podem ou não acontecer em sua vida.
Antes eu imaginava que aos dezoito estaria na faculdade, morando em uma república, estudando feito louca e solteira como uma pedra. Depois passei a me imaginar morando em Campinas, estudando como uma louca e namorando um cara que morava à uns cem quilometros de distância.Hoje, aos dezoito, passei na faculdade, vou estudar como uma louca e ao mesmo tempo ser esposa e dona de casa...E não poderia ser melhor!A vida é cheia de surpresas e nos prega peças o tempo todo e a única coisa que podemos fazer é rir dessas peças...
Todo mundo deve sonhar com os trinta "...a idade do sussesso!", qual a relação entre essas duas coisas eu não sei, mas aos trinta tudo pode mudar.
Eu nunca conssegui me imaginar aos trinta anos, eu sempre parava nos vinte e oito que era quando eu teria que arranjar um marido...Hoje eu ainda penso bastante no futuro, muito menos do que antes por ter aprendido que as coisas acontecem quando têm de acontecer. Imagino como eu quero estar e quem eu quero ser daqui a doze anos.
Aos trinta eu vou ter um filho de uns três anos, uma casa linda, o amor da minha vida ao meu lado,uma bagagem maior ainda de livros lidos e duas faculdades.
Quero levantar às quatro da manhã e ir ao mercadão fazer as compras frescas para o restaurante, voltar para casa e acordar meu marido com o seu café na cama de sempre ouvindo alguém no quarto ao lado choramingando algumas palavras confusas.
Quero rir de um pingo de gente que fala as palavras erradas e esbarra em tudo como eu e quero continuar a ver o brilho do amor nos olhos de quem amo.
Quero continuar com uma felicidade plena e completa, independente do que esteja acontecendo além daqui, dentro de mim.
Eu vou visitar minhas amigas médicas, arquitetas, psicólogas e as que ainda não sabem o que farão aos trinta e nós iremos rir do passado. Riremos da escola, contaremos das faculdades, consolaremos as lágrimas e continuaremos tendo por dentro os mesmo sentimento em relação à cada uma.
Vou ver uma grande pessoa numa peça teatral e dizer: "Ela é minha madrinha de casamento!"
E vou ver um grupo musical famoso e dizer: " O cara do violão é meu padrinho de casamento e a vocalista?! Eu a vi cantar quando ainda morava numa cidadezinha do interior!"
Vou ter todas as músicas que o meu irmão, viajando o mundo todo, tocará. E me emocionarei vendo os vídeos da minha irmã dançando fora do País.
Quando eu tiver trinta anos vou abrir a janela do quarto e dizer que eu sou feliz e que o Mundo não é tão grande assim...Daqui a doze anos eu continuarei sendo a mesma Laís de hoje, meio destrambelhada, nerd, apaixonada por livros e por pessoas, escritora e poetisa por inspiração, musisista por DNA, românticapor natureza, jogadora de D&D, encantada por flores e céus cheios de estrelas e amante das cozinhas e dos amigos.

Esse texto não só meu, é da Lina, da Mary, da Samara, da Laís Pedroso, Da Aline, do Jânio, da Tamy,do Rapha, da Letícia e principalmente do Leandro, o amor da minha vida que vai me ver não só aos dezoito e aos trinta, mais aos quarenta, cinquenta, sessenta, setenta...Pelo resto da minha existência.